Diante da Lei ----------------------------------------------------------------------------------

 

Frans Kafka

Diante da Lei há um guarda, à porta.
Desse guarda aproxima-se um cidadão da província e pede licença para entrar, mas o guarda responde que não lhe pode outorgar permissão no momento. 0 homem pensa um pouco e então pergunta se mais tarde ser-lhe-á permitido entrar.
"Épossívelmas nã o agora- responde guarda.
Estando o portão da Lei aberto, como sempre, e afastando-se o guarda para um lado, o homem curva-se e espia o interior portão a dentro. Ao observar isso, o guarda ri-se e diz:
"Se tanto o seduz, tente passar contra a minha proibiçãol" - E frisa mais: - "Forte eu sou. E sou apenas o guarda menos graduado. De sala, para sala existem guardas, cada qual mais forte que o outro; a face do terceiro dêles eu já não agüento olhar nem uma vez"
Com essas dificuldades não contava o cidadão da província: a Lei deve ser acessível a qualquer um e em qualquer tempo, imaginava êle... mas ao ver mais de perto o guarda, com o seu manto de peles e o nariz grande, a escura barba mongólica fina e comprida, chega à conclusão de que esperar é melhor até que lhe seja outorgada permissão para entrar.

[Kafka, Franz. "Diante da Lei"in Parábolas e Fragmentos. Rio: Ediouro, s/d. P.83-84]