A Revista Brasil de Literatura vem a público com uma segurança: a de estar contribuindo para a divulgação daquilo que se produz hoje, no Brasil, nas áreas de estudo que se debruçam sobre as mais variadas manifestações literárias. Não quer isso dizer que ela seja apenas uma revista de ensaios. Ao contrário, como esta edição inaugural o espelha claramente, ela abre seus espaços para a criação literária em todas as suas manifestações.
Mas, como projeto, ela se coloca como uma alternativa, que não as exclui, às formas tradicionais de edição na vida universitária. É curial saber-se das dificuldades com que se enfrentam as universidades, e não só as brasileiras, para conseguir colocar em público o que se produz dentro de seus muros, nem sempre muito abertos à vida exterior.
Seria tedioso e impróprio, numa inauguração, dissertar sobre os males que atingem a todos quantos se dedicam às questões da cultura. Nossa intenção, aqui, é trabalhar para oferecer alternativas.
A existência e a alucinada expansão a rede mundial de computadores chamada Internet é assunto que já não escapa a quase ninguém no mundo das idéias. O que há, também, é muita perplexidade. Nem todos se inteiraram ainda das enormes possibilidades que este fenômeno abre aos despossuídos de voz e de recursos econômicos, para fazer as suas mensagens chegarem aos quatro cantos do mundo.
Esta é a sua face inegavelmente democrática. Há outras faces, problemáticas sem dúvida. E sobre elas há que refletir com cautela e astúcia. Mas, isso não impede que nos coloquemos dentro da rede, para dela extrair possibilidades de multiplicação de conhecimentos, até muito pouco tempo, inimagináveis. Há quem afirme, com inegável exagero, que, graças à Internet, o conhecimento humano tenha hoje sido multiplicado de forma incontrolável e que ele seja capaz de dobrar a cada quatro meses. Exageros à parte, é inegável que a existência dessa poderosa ferramenta abre, para os pesquisadores, novas vias de contacto e novas formas de diálogo.
Assim, ao lançar a Revista Brasil de Literatura, o que se pretende é colocar à disposição de todos que escrevem literatura e sobre ela refletem um espaço aberto e eficaz.
Aberto, porque aqui a única censura que se admite é a da qualidade, sem a qual uma revista não se legitima. Mesmo assim, o corpo que constitui o Conselho Editorial parece ser garantia suficente de ampla e diversificada pluralidade ideológica, aliada a uma reconhecida competência na área de suas especialidades. E aberta, ainda mais, porque ela não aparecerá por números periódicos, mas estará, permanente e incessantemente se renovando, sem sair do ar. Será uma experiência de revista em processo.
Eficaz, por colocar-se numa via de comunicação capaz de fazer trafegar as idéias que a sustentam por regiões insuspeitadas e até aqui muito distantes dos esforços das publicações não-virtuais. A Revista Brasil de Literatura, ao buscar a Internet como suporte de publicação, define sua posição de abertura a um mundo sem outras fronteiras que não as culturais, sem as quais a necessária diversidade se desfaz, expondo o mundo a uma platitude autoritária.
Não é e não pretende ser uma revista de "literatura brasileira", mas um "revista brasileira" voltada para a literatura. É o nosso olhar sobre as literaturas e as culturas mais diversas que poderá tornar-se o passaporte indispensável para inscrever nossas preocupações no quadro em que o "outro" não é apenas aceito, mas respeitado exatamente pela sua alteridade. É olhando para ele que poderemos melhor conhecer a nossa própria e tão problemática identidade nacional.
Vê-se que a Revista Brasil de Literatura nasce com uma proposta clara e o seu tanto ambiciosa. Caberá ao tempo e aos leitores decidir se a nossa aposta tinha algum fundamento.