O professor entre o sábio e o erudito*.

 

Luis Filipe Ribeiro
Universidade Federal Fluminense (UFF)


Ao aceitar a participação nesta mesa, aceitei o desafio de meter-me em searas onde nem os grandes conseguiram jamais luzes definitivas. Não me tomem, por favor, por presumido; apenas e modestamente gosto de ser desafiado, quando menos, para testar minha ousadia e poder exercitar a embriaguês dos limites.

Algumas das perguntas aqui colocadas poderiam ter respostas aparentemente simples. Seria o conhecido recurso ao lugar-comum que, nada explicando, tudo explica.

Tentarei fugir a esse caminho tentador, arriscando, entretanto, entediá-los ao longo da reflexão que me vejo conduzido a desenvolver.

Creio não haver melhor escolha que atacar, de saída, o que mais me assusta: a questão de estabelecer o que se entende, aqui, por saber. Não me são de grande valia os dicionários ou enciclopédias. Vejamos alguns exemplos.

O nosso indispensável Aurélio nos diz:

“19. Erudição, sabedoria. 20. Prudência, tino, sensatez. 21. Experiência, prática. 22. Bras RJ O anel de grau das professoras primárias.”

O bom e velho Caldas Aulete não avança muito mais:

“ciência, doutrina, soma de conhecimentos humanos; (fig.) prudência, sensatez, experiência adquirida pelo grande trato social; estado de adiantamento, conhecimentos adquiridos, ilustração.”


Se recorro ao Petit Robert, talvez algumas pistas se apresentem:

“Conjunto de conhecimentos mais ou menos sistematizados, adquiridos por uma atividade mental constante; Estado do espírito que sabe; relação entre o sujeito e o objeto do pensamento, cuja verdade aquele admite (por razões intelectuais e comunicáveis)”


Mas, talvez seja, na Enciclopédia Multimeios Hachette, que mais alguns traços se deixem ver:

“Conjunto de conhecimentos, de informações adquiridas. (Filos.) Conjunto estruturado de conhecimentos ou conjunto dos conhecimentos. O saber se opõe à ignorância ( o não-saber não é o erro), à opinião e à crença.”


A Enciclonet, obra de existência virtual, como o nome denuncia, nos dá outra aproximação: “Conocimiento profundo de cualquier disciplina científica o humanística”.

Curiosamente, a língua inglesa, tão pródiga em palavras de origem latina, não recolhe a raiz de saber, aliás, vinculada estreitamente ao sabor. Ali usa-se knowledge , cuja tradução mais adequada em Português parece ser a de conhecimento.

Todas essas aproximações parecem apontar para uma invariante: conjunto de conhecimentos. Ora, se o saber for tomado como conjunto de conhecimentos, será reduzido a muito pouco. Uma enciclopédia seria então um repositório de saber à disposição de quem dela viesse a fazer uso. Quanto mais leitura, tanto mais saber. É curial que esta afirmação não condiz com o mínimo bom senso e não é a esse saber que os organizadores deste evento estavam se referindo ao proporem esta mesa.

Até porque, Augusto Meyer — meu inesquecível professor e poeta de monta — em seu Poemas da Bilu —nos oferece esta pérola:


Vai tocando: o teu destino foi gravado na areia.
Tudo é poema, criança.
Você não sabe nada, felizmente:
saber é saber que não se sabe.


O singelo da expressão nos faz recordar o que, desde a antiga Grécia se tinha por horizonte: o saber está ligado à consciência da ignorância. Se assim é, ou deveria ser, conceituar o saber como soma, conjunto de conhecimentos é reduzir o movimento à estática, o processo à ritual imobilidade dos cemitérios. Quer-me parecer que devo aqui ater-me à noção de processo. Saber, agora como verbo, é movimento perene, é um incessante buscar. Não tem forma, tem objetivos. Não é mensurável, é transbordar.

Assim, o sentido comum, cujo estuário erudito são os dicionários e enciclopédias, ajudou-nos a ver o quanto uma visão deformada e preconceituosa oculta o lado mais fascinante do saber: o seu lado de movimento incessante de descoberta. Mais ainda, o sentido comum apossou-se do saber para transformá-lo em coisa, de forma a poder quantificá-lo e, assim, colocá-lo no rol daquilo que tem preço, peso e medida. Poder domesticá-lo e enquadrá-lo; pois é próprio do pensamento conservador o horror ao movimento. Se saber é verbo, trata de transformá-lo em substantivo. Sabe-se que o próprio do substantivo é dar nome a coisas e seres. O movimento existe e, existindo, não pára. Só será coisa quando se extingüir ou perder a razão de transformar-se. E tal processo é comum, pelo menos nas nossas línguas ocidentais. Não transformamos a maravilha de beijar, em insosso substantivo beijo? Quem prefere o beijo ao beijar? Melhor o jogo que o jogar?

Difícil a tarefa de quem crê no movimento de expressar-se em línguas que tendem a tudo paralizar. Já não o denunciavam os pré-socráticos, ao afirmar que “ninguém pode banhar-se duas vezes no mesmo rio; pois nem o rio, nem o banhista serão os mesmos”?

Assim, ao tentar agarrar o conceito de saber, deparo-me com uma enorme e invisível barreira epistemológica. Uma poderosa resistência inconsciente a considerá-lo movimento e busca; um convite a transformá-lo em quantidade mensurável e apropriável.

Não posso, assim, falar do saber do professor. Talvez pudesse agarrar-me à tangente convidativa do conceito de sabedoria. Mas, ele também pode possibilitar a definição quantitativa. Seria transferir da área do genérico, para a área do singular o mesmo problema. A sabedoria de uma pessoa poderia ser tomada como um conjunto de conhecimentos, uma soma de informações. E, evidentemente, não é disso que se trata.

Sir Richard Burton, naturalista inglês que viveu longos anos no Brasil do século XIX, oferece-nos uma bela reflexão:


Há quatro espécies de homens:
0 que não sabe e não sabe que não sabe: é tolo - evita-o;
0 que não sabe e sabe que não sabe: é simples - ensina-o;
0 que sabe e não sabe que sabe: ele dorme - acorda-o;
0 que sabe e sabe que sabe: é sábio - segue-o.


A sabedoria aqui está pensada como uma qualidade complexa que não encontra explicações na mera acumulação. Entre um erudito e um sábio há mais distância do que entre a terra e a lua. O erudito é um colecionador, é um pão-duro intelectual: tudo acumula, para gastar com muita morigeração. O sábio não acumula, o sábio transforma. Devolve multiplicado o pão que o alimentou. É a este que devemos o que conseguimos entender do mundo. Ao erudito devemos o horror das nossas provas escolares, em que os malabarismos da memória passiva só conseguem ser maiores do que a desinformação final conseguida.

Nosso currículos escolares são a mais evidente prova de que a educação, entre nós, foi sempre entendida como a preparação do erudito. Machado de Assis, em seu inesquecível A Teoria do Medalhão, que nos auxilie. O pai prestimoso, ao ensinar o filho as regras do mundo, faz-lhe ver que o sucesso está na razão direta da vacuidade intelectual, expressa através lugares comuns e chavões que têm o mérito de nada dizer, aparentando dizê-lo e bem.

Aprendemos aqui, neste país infeliz, que a escola é onde se aprendem as matérias. Matérias que devem ser conhecidas de cor e salteado. Para quê, nunca se sabe. Elas fazem um pouco o mesmo papel daquilo que chamo de cultura da Rádio Relógio Federal. Lá se liam, e constantemente, as famosas perguntas “você sabia?” . Por exemplo, “você sabia que as moscas batem as asas tantas mil vezes por minuto?”. Não sabê-lo era marca de ignorância. E sabê-lo significava o quê? Sabia-se mais sobre o mundo?

A oferta de uma informação de corte científico, descontextualizada de uma prática científica, não significa nada. É informação vazia que só pode satisfazer ao colecionador, tipo retentivo já bastante estudado pela psicanálise. Ao erudito tal informação vale sempre com arma. Não como conhecimento. Quem não se lembra do delicioso romance de Clarice Lispector, A hora da estrela, em que o pedreiro Olímpico humilhava a pobre Macabéia, exatamente com apontar-lhe a ignorância por não saber aquilo que ele colecionava, ouvindo seu radinho de pilha na mesma Rádio Relógio?

O sábio não sabe; quem sabe é o erudito. Claro está que os dois têm funções em nossa sociedade. Diferenciadas, mas funções. O erudito de confirmar o já sabido, dando-lhe o tom de verdade definitiva. O sábio de questionar o já sabido, buscando relativizar o sabido, em busca de mais saber. O erudito é um beato — e deles tenho medo!. O sábio, um agnóstico. O beato, cheio de certezas, é sempre capaz de “prender e arrebentar”, em nome de suas próprias e definitivas verdades — e ai de quem delas duvidar!. O sábio só sabe, e pobremente, ter dúvidas. Não se espere deles a confirmação do mundo, até porque crêem que ele não está em movimento, mas é o próprio movimento. E como colocar tal movimento em gaiolas conceituais?

Lévi-Strauss, antropólogo e etnólogo francês que ajudou a construir a USP, já nos alerta que: 0 sábio não é o homem que fornece as respostas verdadeiras; é o que formula as perguntas verdadeiras.

Parece ser, então, que, retomando nosso tema inicial, seja desejável que, ao referir-me ao professor, não fale de seu saber nem de sua sabedoria. Prefiro desejar que ele se torne, na medida de suas possibilidades, um sábio entre sábios. Para isso é necessário despir o conceito de sua indumentária formal e engessada. Entre nós sábio é adjetivo atribuível a um número escasso de seres humanos, agraciados ou bafejados com a auréola da sapiência, numa homenagem, outra vez, à quantificação do saber. É um pobre conceito este! Ele redunda o sucesso mundano dos meios de comunicação, atribuindo a cada um os seus quinze minutos de glória. Não falo desse sábio, figura mundana e visível; escassa e discutível. A glória midiática não significa a presença do sábio, tal e como aqui o estamos tomando. Não se precisa ser um luminar - origem de toda a luz! — para se ser um sábio. É necessária, antes de mais, a humilde curiosidade de quem sempre quer saber mais e mais, não em quantidade, mas em qualidade e entendimento. Sábio é quem quer aprender, quem não se contenta com a conhecimento já feito e aprovado, quem não teme os limites.

Minha figura mítica, aqui, é indiscutivelmente a do Fausto. Seja a personagem, mais conhecida, de Goethe; seja o de Cristopher Marlowe; seja o da versão de Spiess, na Frankfurt do século XVI; qualquer uma delas atende à minha expectativa. O Fausto, demonizado, pela igrejas de plantão, pelos sábios canonizados, pela boa sociedade, este Fausto tudo o que ele deseja é conhecer. Conhecer além dos medíocres limites da escolástica dominante; conhecer, sem pedir licença a ninguém, muito menos aos poderosos de então; conhecer não para publicar e brilhar, mas para satisfazer uma fome de entendimento inesgotável. Este Fausto, para poder ultrapassar os limites estabelecidos, arrisca-se a tudo. Diz a lenda que vendeu a alma ao demônio. É verdade. Vendeu-a para poder vencer as barreiras, de outra forma inexpugnáveis. Mas, pensando-se bem, o que Fausto vendeu? De onde nos vem a certeza de que ele era cristão? Quem diz que acreditava em sobrevivência da alma? Quem diz que era dono e senhor do pensamento que gerava e o gerava? Vendeu ele realmente alguma coisa?

Prefiro vê-lo como o patrono dos agnósticos modernos, vendendo a um demo de fancaria um nada, como merecem todos os que fazem da vida um mero acúmulo de bens e riquezas.

Mas, tendo vendido ou não sua alma, o Fausto que retenho é o da coragem intelectual. Nada se consegue com a obediência aos poderes deste mundo. Obedecer ao existente é condenar-se ao já sabido, é aceitar as verdades já prontas e embaladas para o consumo. Todo sábio é um irreverente; é a própria encarnação da desobediência. Não haverão as academias de entronizá-los, senão post-mortem, quando já não oferecem o mesmo perigo. Não serão figuras do mundo, nem terão as benesses do poder. Esses sábios são a expressão invisível do processo de conhecimento e do progresso de todas as sociedades.

Terá sido um mero acaso Erasmo de Rotterdam, no seu insuperável O Elogio da Loucura, haver dito:
Convida um sábio a jantar: perturbará por um frio silêncio ou por perguntinhas molestas. ?

É este padrão, é esta referência de sábio, é esta dimensão fáustica que desejaria, hoje, poder atribuir aos professores que me ouvem.

Não, não é tarefa de vocês ajudar a fazer ver o mundo como ele já é; transmitir, como correias de alimentação, os saberes prontos e embalados. Isto seria trabalhar com o saber, na dimensão que tentamos criticar.

Hoje, numa sociedade midiática, não cabe à escola redistribuir a informação. Nunca foi, na verdade. Mas, hoje em dia, especialmente, não tem a escola como competir com outros meios, muito mais poderosos, na distribuição dos conhecimentos já conseguidos. Com a televisão, com o cinema e, em especial, com a Internet, não vejo como a escola possa competir na busca de conhecimentos, nem na sua impressionante atualização. Li, há tempos, um artigo de um ensaísta japonês, em que ele afirmava que a quantidade de informações disponíveis na Internet dobra a cada quarenta dias. Se assim é, e aceito a afirmação sem questioná-la, por confessada incapacidade de provar algo diferente, não temos nós como competir com essa máquina fantástica.

Mas é nosso papel, sim, o de processar e analisar a informação. De ajudar nossos alunos a entenderem que as verdades se fazem e desfazem, num processo de permanente crítica e superação. O que hoje é verdade, amanhã será erro. Nem outro é o processo da história do conhecimento. Não é errado afirmar que a terra é o centro do sistema do universo. Durante séculos esta foi a verdade básica sobre o mundo. Verdade tão verdadeira quanto as demais que com ela constituíam sistema. Errado seria afirmá-la hoje, quando outra e melhor resposta foi elaborada a partir de Nicolau Copérnico e Galileu Galilei. O erro de hoje foi a verdade de ontem.

Assim temos que nos preparar para a tarefa de trabalhar com as informações e de ajudar nossos alunos a buscarem-na onde e quando os meios as tornem possíveis. E a tarefa crítica exige o sábio e é inalcançável para o erudito. Não é mais possível trabalhar acumulando e repassando informações que, com a velocidade que os conhecimentos são elaborados em nossos dias, estarão superadas a curto prazo. Não nos cabe mais criar alunos acumuladores, não devemos mais estimular a erudição balofa que nos propõem os chamados livros didáticos.

Hoje é preciso mais que saber uma informação, saber para que serve, em que contexto pode ter validade, em que condições foi criada. Necessitamos formar sábios, pessoas capazes de duvidar, de ousar, de romper as barreiras que nós mesmos criamos nas nossas salas de aula. Hoje, só o estímulo à desobediência faz sentido no campo intelectual. Caso contrário, estaremos criando uma geração igual à nossa, desprovida de um discurso próprio diante dos desmazelos do poder e que vive um doloroso paradoxo: frente a um governo desmoralizado e desprestigiado, não consegue levantar uma proposta de oposição confiável e elegível. Espero que nossos alunos possam ser no futuro o que não conseguimos ser no presente. Sábios capazes de duvidar e de propor; de ousar e de negar evidências; de construir mundos possíveis e lutar por implementá-los na superfície ingrata da História.

Perguntam-me também sobre a valorização do saber do professor. Atenho-me ao argumento neo-liberal: o mercado dirá. E o tem dito com uma crueldade ímpar. Por mais que a minha avaliação seja outra, e seguramente é, nada posso fazer contra as réguas do sistema dominante, neste aspecto. Os professores são desvalorizados porque transformaram-se e foram transformados em simples correias de transmissão. Parte do movimento do sistema, ainda mesmo quando pessoalmente rebelem-se contra ele, tornaram-se peças substituíveis e renováveis no processo de treinamento da mão-de-obra obediente e disciplinada que não almeja mais que as migalhas materiais, as sobras do jantar alheio.

Quando transformarem-se em sábios, sempre no sentido aqui defendido, capazes de demonstrar à sociedade, e não aos poderes constituídos, a sua importância e a sua imprescindível existência, serão valorizados por outra régua que a do mercado ao qual estão hoje escravizados. Só a sociedade civil poderá avaliar a nossa importância. E isto no dia em que deixemos de olhar para o nosso próprio umbigo e possamos dizer à sociedade para que efetivamente servimos. Enquanto nos contentarmos em preparar os alunos para o vestibular, acumulando informações superadas e improcedentes, mas com prazo de validade vigente nessa seara, nossa valorização será esta. Pequenos robôs semi-inteligentes a serviço de um sistema perverso.

Quando nossa atividade deslocar-se desse eixo, para transformar-se numa nova pedagogia, a pedagogia da rebeldia intelectual, da desobediência aos padrões estabelecidos e esvaziados, da ousadia e da criação, da busca e da descoberta, da aventura e da transformação, aí então seremos valorizados. Não esperem, entretanto, a valorização econômica e financeira. Nenhum sistema social até hoje enriqueceu seus professores; este é um privilégio dos áulicos. É a paga dos serviçais de luxo. Vejam como se vestem bem os nossos economistas oficiais!

Mas o reconhecimento que buscamos, lamentavelmente, não será muito diferente daquele merecido por Sócrates, nem do destino de Fausto. Aos desobedientes, que criaram civilização, o castigo de Prometeu, o suplício de Tântalo, a perdição de Fausto, a cicuta de Sócrates.

Que mais se pode pedir, numa sociedade cuja glória maior é a obediência aos poderes, a prostituição de luxo, a corrupção sistêmica e a lama da alma dos nossos dirigentes?

Rio de Janeiro, 21 de maio de 2001.


* Conferência pronunciada no III Encontro de Profissionais de Ensino por ocasião da X Bienal Internacional do Livro, Rio de Janeiro 17 a 27 de maio de 2001, subordinada à seguinte temática: "Quanto vale o professor ? O saber docente e sua valorização objetiva e subjetiva O que é o saber? Como é qualificado e valorizado o saber do professor? Que tipo de reconhecimento esperamos atualmente ? Quais as suas compensações objetivas e subjetivas?"


Luis Filipe Ribeiro é professor de Teoria da Literatura e de História e Literatura da Universidade Federal Fluminense. É Doutor em História e Mestre el Letras. É autor de Mulheres de Papel: um estudo do imaginário em José de Alencar e Machado de Assis (Eduff, 1996) e Geometrias do Imaginário (Laiovento, 2000). Dirige e edita a Revista Brasil de Literatura [https://members.tripod.com/~lfilipe] e a RBL Editora [http://www.rbleditora.com], ambas virtuais.


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